Luto

  


vi dois melros apaixonados
no jardim ao lado
e entendi
não fiz ainda o luto
do bosque alado

MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GÂNDIA, Sophia de Mello Breyner Andresen

 


Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Sophia de Mello Breyner Andresen1919-2004
Obra Poética
Sophia de Mello Breyner Andresen; edição de Carlos Mendes de Sousa
Editorial Caminho

"Um Poema por Semana" - RTP2
Uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.



"A Cortina da Enfermeira Lugton" - Virginia Woolf



Congelado no padrão de uma cortina da sala, um mundo de sonhos espera pacientemente enquanto a enfermeira Lugton costura. Enquanto ela cochila à luz do lampião, os animais que decoram o padrão da cortina, vão despertando lentamente, fazendo o seu caminho em direcção a um lago brilhante e a uma cidade mágica. Esta história maravilhosa de Virginia Woolf foi encontrada entre as páginas do manuscrito de sua Sra. Dalloway. As ilustrações da gloriosa Julie Vivas trazem às palavras de Virginia Woolf vida para criar um volume mágico que vai encantar crianças e adultos.


A Cortina da Enfermeira Lugton
Virginia Woolf
Tradução do espanhol por Pedro Peres


A enfermeira Lugton estava dormindo. Tinha acabado de dar um grande ronco. Deixando tombar a cabeça, colocou os óculos na testa, e lá estava ela, sentada ao lado da lareira, com um dedo levantado e um dedal nele enfiado, a agulha com fios de algodão pendurados. Estava ela roncando e roncando, e nos seus joelhos, cobrindo completamente o avental, tinha um pedaço grande de tecido azul estampado com pequenas figuras. Os animais do padrão do tecido não se mexeram até que a enfermeira Lugton roncou pela quinta vez. Um, dois, três, quatro, cinco... Ah, a velha dormia finalmente. O antílope cumprimentou a zebra com um aceno de cabeça, a girafa mordeu uma folha da árvore, todos eles começaram a se agitar e contorcer, no padrão do tecido azul havia rebanhos de animais selvagens, e mais além um lago e uma ponte, uma aldeia de casas redondas, onde homens e mulheres espreitando pelas janelas viam o dorso de um cavalo a cavalgar sobre a ponte. Mas, enquanto a velha enfermeira roncava pela quinta vez, o tecido fez-se céu azul, as árvores balançaram-se, ouvia-se o ondular da água no lago, ao atravessar a ponte via-se as pessoas acenarem com as mãos das janelas. Os animais então puseram-se em marcha. Primeiro veio o elefante e a zebra, depois a girafa e o tigre, e mais tarde a avestruz e o mandril, doze marmotas e um grupo de suricatas, os pinguins e os pelicanos avançavam atropelando-se dando bicadas uns aos outros. O dedal dourado da enfermeira Lugton iluminava-os como um sol, e quando a enfermeira Lugton roncou de novo, os animais ouviram o barulho do vento através da floresta. Desceram para beber e enquanto andavam, a cortina azul (sim, porque a enfermeira Lugton estava fazendo uma cortina para a sala da esposa de John Jasper Gingham) transformou-se em relva cobrindo-se de rosas e margaridas, salpicada de pedras brancas e negras, de pequenas poças e de rodados dos carros, e as rãs saltavam nervosamente escapando dos pés dos Elefantes. E assim lá iam eles, colina abaixo, beber ao lago, onde logo se reuniram todos na margem, enquanto uns baixavam a cabeça e outros a levantavam. Mas que visão tão bonita... E pensar que todos eles repousavam sobre os joelhos da velha enfermeira Lugton, durante seu sono, na sua cadeira Windsor, sentada à luz do lampião, pensar em seu avental coberto de rosas e relva, pisado por todos aqueles animais selvagens, sabendo que a enfermeira Lugton morria de medo por colocar a ponta do guarda-chuva em qualquer jaula do jardim zoológico! Era suficiente apenas um pequeno besouro preto para que a enfermeira Lugton desse logo um salto! Mas nesse momento dormia, não viu nada. Os elefantes bebiam, as girafas mordiscavam as folhas mais altas e tenras e as pessoas que atravessavam as pontes lançavam bananas, atiravam frutos pelo ar, bonitos barris dourados cheios de marmelos e pétalas de rosa, fazendo o deleite dos macacos. A velha Rainha passou no seu palanquim, assim como o general do Exército e do Primeiro-Ministro, do Almirante, do carrasco e dos dignitários que visitavam a cidade, um belo lugar chamado de Millamarchmantopolis. Aos maravilhosos animais nada os incomodava, muitas pessoas sentiam pena deles, era bem conhecida que até o mais pequeno dos macacos estava enfeitiçado. A grande Ogra forçava-os a trabalhar incansavelmente, as pessoas sabiam. A grande Ogra chamava-se enfermeira Lugton. Eles a viam das janelas, alta como uma torre, com o rosto como a encosta de uma montanha, com grandes penhascos e avalanches, poços no lugar dos olhos, nariz, cabelo e dentes. Congelava vivo todos os animais que se atrevessem a entrar em seu território, obrigando-os a passar o dia colados aos seus joelhos, mas quando adormecia, os animais recuperavam a liberdade, ficavam soltos, e ao entardecer desciam até Millamarchmantopolis para beber no lago. De repente, a velha enfermeira Lugton enrugou a cortina. O zumbido de uma grande mosca varejeira azul que voava em torno do lampião tinha-a despertado. Ela se sentou em sua cadeira e segurou na agulha. Os animais tombaram instantaneamente. O ar tornou-se um tecido azul. A cortina ainda estava em seus joelhos. A enfermeira Lugton pegou na agulha e continuou a costurar a cortina para a sala da senhora Gingham.




"Hurt" by Johnny Cash

"Hurt" is a song written by Trent Reznor, first released on Nine Inch Nails' 1994 album The Downward Spiral. In 2002, "Hurt" was covered by Johnny Cash to critical acclaim; it was one of Cash's final hit releases before his death. Its accompanying video, featuring images from Cash's life and directed by Mark Romanek, was named the best video of the year by the Grammy Awards and Country Music Awards.
fonte: Wikipedia
P.S.: trazida até mim pela querida  Rita Schultz



"Hurt"
Johnny Cash
Composição : Trent Reznor

Hurt
I hurt myself today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real

The needle tears a hole
The old familiar sting
Try to kill it all away
But I remember everything

(Chorus)
What have I become?
My sweetest friend
Everyone I know goes away
In the end

And you could have it all
My empire of dirt

I will let you down
I will make you hurt..

I wear this crown of thorns
Upon my liar's chair
Full of broken thoughts
I cannot repair

Beneath the stains of time
The feelings disappear
You are someone else
I am still right here

(Chorus)
What have I become?
My sweetest friend
Everyone I know goes away
In the end

And you could have it all
My empire of dirt

I will let you down
I will make you hurt

If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way

Dor
Machuquei a mim mesmo hoje
Pra ver se eu ainda sinto
Eu focalizo a dor
É a única coisa real

A agulha abre um buraco
A velha picada familiar
Tento matá-la de todos os jeitos
Mas eu me lembro de tudo

(Refrão)
O que eu me tornei?
Meu mais doce amigo
Todos que eu conheço vão embora
No final

E você poderia ter tudo isso
Meu império de sujeira

Eu vou deixar você pra baixo
Eu vou fazer você sofrer

Eu uso essa coroa de espinhos
Sentando no meu trono de mentiras
Cheio de pensamentos quebrados
Que eu não posso consertar

Debaixo das manchas do tempo
Os sentimentos desaparecem
Voce é outro alguém
Eu ainda estou bem aqui

(Refrão)
O que eu me tornei?
Meu mais doce amigo
Todos que eu conheço vão embora
No final

E você poderia ter tudo isso
Meu império de sujeira

Eu vou deixar você pra baixo
Eu vou fazer você sofrer

Se eu pudesse começar de novo
A milhões de milhas daqui
Eu me manteria
Eu acharia um caminho

meu tanto mar

neste imenso oceano
meu tanto mar


minhas cartas de marear
secas de tanto sal e sol
nas fortes borrascas
nestas noites escuras
desbotadas em azul
das estrelas afastado
nas nuvens
do universo mais imenso


desta força recôndita
esbracejo em agonia
fuga do medo
do frio grito esconso
que suga


fico 
agarrado só 
à vontade 
de
ficar


e se não for
para não ser todo teu
bebo-te todo em mim


tanto mar e tanta sede
tão cruel és deserto
que te quero tanto meu

.




no vazio,
não se sente a brisa na face.


sinto-me morto,
e a morte não se trata,
enterra-se
.

a espera



submerso
a baixa-mar
suspirando
p'ra respirar

Soltas

  • Com água doce da montanha lavaste esta saudade de sal em aberta ferida
  • Amo como não posso deixar de amar um olhar de criança
  • Um beijo... todo beijo
  • Me dá o que me faz menino
  • É no amor que resisto ao apelo sedutor da dor